sábado, 27 de novembro de 2010

CARTA DE MORTE.

Homenagem ao vô Manuel Emerim. Homem bom.

Sou quem sempre fui,
Então não há muito a ser dito.
Só resta colocar o meu melhor terno
E o meu sapato favorito.
O que tinha para sorrir, não vi.
O que tinha para chorar, cansei.
Não adianta acender agora as velas
Que sobre os bolos eu apaguei.
Pois os anos passaram em silêncio.
Foram indo embora com cuidado,
E quando eu percebi o tempo poente,
Já não havia forças para fazer legado.
Mas como fazer legado,
Esperando a chuva regar o chão,
Gritando uma lingua estranha
Com uma enxada na mão?
Já colhi colheita podre
De plantanção tão dedicada
E já fechei a porta na cara
De gente que não me devia nada.
Deus que me perdoe,
Mas se errei não me arrependo.
Quanta gente erra rindo a vida inteira
E se arrepende só quando está morrendo?
Que valor existe nisso? Meu Deus,
Se no céu existe gente assim,
Me deixe ser a chuva que rega o chão,
Que rega as plantas e as flores do jardim.
Porque existem muitos jeitos
De se cometer o mesmo pecado.
Ai, mundo velho! Eu me indo embora,
E tu ainda girando em volta desse sol parado...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Chorumelas II - Por Favor, Desculpa E Obrigado


Por favor, queria que tu te visse como eu te vejo!
Desculpa se o que te machuca me faz bem!
E obrigado por me mostrar a tua melhor parte...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cássio

 Cássio (07/09/10)

            Cássio chegou em seu apartamento cansado, como se tivesse cruzado a linha de chegada de uma longa maratona. Ligou as luzes do corredor, foi até seu quarto e, como de costume, colocou alguma música que o fizesse esquecer o calor, as pessoas e sua fome. Então Cássio andou lentamente até a janela e viu o mundo à sua imagem e semelhança.
            Se surpreendeu com o pensamento que esse é o mesmo mundo que ele vê há 42 anos. Mas a vida não reserva mais surpresas para Cássio, que já se casou, já se separou, já teve um filho e já não tem mais e, recentemente, recebeu uma mensagem em seu celular dizendo que não precisaria ir trabalhar na segunda-feira, que a empresa na qual trabalhava estava encerrada, e que logo iria receber uma carta com o subsídio de desemprego. Queria ele ter seguido seus sonhos, mas preferiu seguir suas ambições, trocando as teclas do piano por um curso de contabilidade e suas partituras por de folhas de pagamento. Queria ele ter continuado com suas manias, seus péssimos hábitos, como, por exemplo, na época em que fumava insaciavelmente a ponto de, durante sua janta solitária, bater bituca na borda do prato, do lado do feijão reaquecido.
            Mas nem fumar fumava mais. Fumou tanto que pegou nojo.
            ...
            O fato é que sem sonhos, sem manias nem vícios, Cássio direcionou seu dia e sua noite para suas ambições. E ao ser demitido através de um "torpedo" sentira o valor e o prestígio que suas ambições vazias lhe deram. Ligou inúmeras vezes para seu chefe, mas este nunca atendeu, e pior, entupiu sua caixa de e-mail com mensagens motivacionais.
            Mas nada motivaria Cássio, que agora via o mundo como o espelho da sua apática decepção. Grandes prédios cinzas erguidos pelo seu casamento fracassado, ruas pavimentadas pelos seus anos perdidos em trabalho incansável, e pessoas, de luto, caminhando em marcha fúnebre pelo seu filho que se foi. Como Cássio era orgulhoso demais para olhar para dentro de si, o mundo se fazia Cássio para que ele se admirasse.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Chorumelas I

Sentado ao teu lado,
Seguro a tua mão sobre a mesa.
Quero te dar um beijo.
Mas então olho para tua boca cerrada,
E para teu olhar contrariado,
Iluminado pelas luzes da noite,
Que olha fixamente para bem longe.

Então eu tento me lembrar do teu sorriso,
E das vezes que tentei te fazer sorrir.
Das flores que tanto te comprei,
Dos nossos tantos planos! 
 Dos nossos beijos...

Bebo um gole de vinho,
Olho para as pessoas em volta,
Suspiro e olho para o chão.


Tudo acabou!
E como dói ser o último a saber...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Odisseia Musical.

Havia cansado de ser um sonhador amargurado.
Sem sorte, acorrentado ao demérito passado.
Sozinho, vendo as plantas murcharem ao redor.
Resolvi transformar a poeira do tempo em suor.
Certo dia abri a janela, ouvi cidade adormecida.
E o silêncio que ecoava por cada rua e avenida.
E vi ali meu palco, e meu público tão disperso.
Corri de peito aberto e na rua me fiz submerso.
Andei por tantos litorais capturando só a beleza.
Cantei tudo aquilo mais alto, só para ter certeza.
Gastei a ponta dos meus dedos em corda de aço.
Criei calos nas mãos aperfeiçoando o meu traço.
Penei no compasso, e do bagaço de uma laranja.
Tentei cantar a força que a simplicidade esbanja.

Mas que valor isso tem aos teus ouvidos?

domingo, 24 de outubro de 2010

AS LAMENTAÇÕES DE UMA ARTE QUE MORREU

PRIMEIRO LAMENTO.

Essa arte veio da natureza,
Da força e da beleza
Era das artes a mais humana,
Bela fera hierática e profana.
Cantava ao povo, era viva.
Lágrima, suor e saliva.
Hoje, seu cadáver encarde,
Sob luzes e postes na rua,
Nessa cidade sem lua,
Onde o dia amanhece tarde.

 SEGUNDO LAMENTO.
Se a arte morreu de causas naturais
É porque o mundo estava virtual demais.
A artificialidade tem graça?
Veja os fogos de artifício.
Luz, barulho, cor e fumaça
E, no mesmo vazio do vício,
Não esquenta de verdade,
Mas queima até consumir tudo.
Quantidade vira qualidade,
E pobreza já é conteúdo,

TERCEIRO E ÚLTIMO LAMENTO.

Se a mataram não me admira!
Quantas vezes ela não foi mentira?
Ela já enfeitou muito bolero,
Mas cada enfeite foi sincero.
Era a arte da oferta irrecusável.
Era lobo em pele de serpente,
Entrava pela porta da frente
Com sua beleza incontestável.
Mas ao te ver em decomposição,
Tua canção já não escuto.
Linhas em branco, de luto,
De preto, juntando do chão
As lamentações de uma arte que morreu.
Morreu de medo suponho.
Com medo do tempo que esqueceu
A já saudosa arte do sonho.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Fidelitas

O vestido abraça o corpo
                                       Como quem sente saudade...                               
O batom corre pela boca
                                      Como quem preenche o vazio...
A porta fecha silenciosamente
                                             Como um ato de cumplicidade...


Amar é uma das poucas tarefas,
Que se tu não sabe fazer direito,
Alguém faz por ti.


E, como a pressa de quem tem sede,
Ela some, mas nos mostramos fiéis:
Eu finjo dormir, ela finge não ir...

domingo, 19 de setembro de 2010

Tradição

Que juventude essa!
Bonita sim, mas vazia.
Vivendo sem medo,
Igual trem nos trilhos.
Toda a liberdade
Para andar na linha.
Sendo movidos apenas
Pelo carvão queimando
Nos olhos deslumbrados,
Nos ouvidos alienados.
Mantendo a tradição
De achar que viver é
Apenas fazer fumaça!
Enquanto na verdade,
O carvoeiro te enche
De motivos, de idéias
Para te ver correr, mas
O maquinista te vê como,
E apenas como,
A próxima parada.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A última espiada pela fresta da porta de meu quarto

Espera!!! Não fecha a porta ainda.
Olha para esse quarto pela última!
Será que sempre serás bem-vinda?

Além de tudo

Pai,
Além de Roberto, meu norte.
Além de forte, bom conselho.
Além de espelho, meu amigo.
Além de castigo, experiência.
Além de vivência, é saudade.
Além de tudo és, na verdade,
                                        Pai.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Poema às cegas

Pessoas, legalizem. Portas são alvoradas,
E só o quadro da flor, em vão, floresceu.



Ezequiel M. Kniep , Henrique Weiss, Marina Augustin, Pedro Noguez e Roberto Ochoa.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Lobo-guará

Lobo-guará

Olha o lobo-guará perto dum jacarandá!
Olha que força tem esse lobo campeiro.
Tem fome de fruta lobeira, de guarambá.
O lobo-guará tem pelugem de braseiro,
E como chama viva corre pela coxilha.
Longe do cerrado e longe de sua família,
Lobo-guará é sozinho, não tem bandão.
Migrou para o sul, do frio se acostumou,
Seu cerrado virou fazenda, seu rio secou.
Mas lobo-guará uiva porque dói a solidão,
Uiva para lua, pois entende sua condição:
É sozinha no escuro, e hoje, brilha em vão.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desabafo Sincero IV

Vejo de longe os deslumbramentos falsos
Com triste embrulho no estômago
E forte mágoa no meu âmago,
Pois quero viver vida sobre pés descalsos.

Mantenho distância dos relógios digitais.
Quero viver analogicamente,
Enquanto eu morro lentamente
De causas naturais.

Odeio o óbvio

odeio o óbvio
odobo
db

sábado, 17 de julho de 2010

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.




Julho de 1955, Porto Alegre.
Mesmo sendo noite fria, a boemia se espalhava pelas ruas.
Dentro de um bar emanava um tango chorado pelo piano,
E havia muitas mesas ocupadas na calsada.

Vendo tantas rosas pelas mesas, tantos casais
E ao sentir aquele odor de vinho que dançava pelos acordes dos bons tempos,
A moça que passeava sozinha pelo frio da noite,
Tomou-se de emoção e procurou uma mesa para sentar.

O vendedor de rosas que gingava de mesa em mesa sorrindo, fazendo graça,
Ao ver tal semblante, lhe oferecera a flor. Foi o afrodisíaco justo:
-Não precisa pagar por esta, paixão não se vende.
Ao ouvir isso ela suspirou fundo, fechando os olhos
Para não ver as mesas que giravam a sua volta

E, discretamente, fez ao garçom a seguinte pergunta após ser servida:
- Quem melhor entende de amor? - Perguntou ela com o lábio roxo
- O pianista de tango, ou o vendedor de rosas?
O garçom hesitou. Apontou para um senhor muito embecado,
Então dizendo calmamente para a moça:

-Vê aquele velho? A vida lhe tirou duas noivas, ambas muito cedo.
O tempo se arrasta enquanto o viúvo ainda espera sutilmente pelo seu dia,
E não há nada de triste nisso, mas sim de belo. Entenda:
A rosa logo murcha, o tango hora cansa. A cova é para sempre.

sábado, 3 de julho de 2010

Amor e Paciência

Escrito em 2007. Eu tinha 16. Um de meus primeiros poemas fora da estética do Rap. Isso se evidência na insegurança das rimas, essenciais no Rap, mas dispensáveis quando se quer dizer alguma coisa urgente a ser dita. Então nesse poema - ao meu ver meio bobo - há muitas rimas pobres, que refletem essa insegurança. Postei aqui, mas não queria. Porém há uma explicação... Certas coisas na vida, por mais que a gente esteja careca de saber e alertar os outros, acontecem com a gente, e estamos tão envolvidos que mal percebemos. É como um barco a vela no meio do mar. Tamanha é a imensidão dos horizontes que o azul do céu se confunde com o azul do mar, e quando tu te dá por conta, o vento te levo pra outro rumo,quando tu vê tu tá perdido. E nesse poema eu falo sobre quando a persistência vira teimosia... E eu, marinheiro de primeira viagem nessa vida, deveria ter ouvido aquilo que eu tanto alertava.

amor e paciência
um depende do outro
tão grande a influência
que um não sobrevive sem o outro

o amor sem paciência
uma forte rajada de vento
iludida, furiosa e intensa
dura tão breve momento

a paciência sem amor
é ventania teimosa
que muda de rota sem pudor
perdição desastrosa

o amor paciente
quando existe de verdade
é a brisa leve que leva a gente
para os mares da felicidade

a persistência vira teimosia
se a paciência é vazia
se o amor não existe
inutilmente alguém persiste

mas não importa, o vento continua soprando...

Reflexos

Reflexos

uma parte de uma letra de rap escrita por mim em meados de 2007.

Deixa eu rir, deixa eu brincar com o perigo em paz.
Além do mais a vida já brincou comigo demais.
E não importa se eu vivo essa vida sem nexo.
Não sou do tipo que se julga pelo próprio reflexo.
Sedento e perplexo, entre vitória e derrota.
A paciência quase esgota, mas não mudo de rota.
Sentimento se transforma, pensamentos criam forma.
Sem seguir nenhuma norma de traço, traço que não se conforma
Com a a vida morna. Minha vida se torna um espelho.
Que reflete próprias verdades e escassez de concelho.
Não tenho tudo que mereço, não mereço o que tenho.
Independente do empenho, não ligo pro desempenho.

Desabafo Sincero III

Desabafo Sincero III

Eu só quero a graça de viver de graça. Dormir no banco da praça,
Onde o sol me abraça. Onde tudo passa.
Bem longe das traças. Bem longe das farsas.
Da discriminação de raça. Eu me juntarei as massas.
As marchas e as cachaças. Longe das taxas e das caças.
Nosso caminho a gente traça. Nossa sorte a gente laça.
Os falsos, verdade amassa. Os falsos o tempo enferruja.
Enquanto eu varo a noite passando a limpo minha poesia mais suja.

''Stay Young''

"Stay young" o caralho, "stay young" é insegurança.
Insegurança da alma e medo da carne.
Cirurgias para as rugas? Tintura para os cabelos?
O oxigênio ainda consome vocês!

De que seria o vinho sem o amargo e nobre
Gosto do tempo? Sabor dos anos?
A sabedoria dos carnavais compensa
A pouca força no sambar: Todos tiveram sua vez!

Quem brilhou, brilhou...

O Carpinteiro

O Carpinteiro

Nasceu em lar humilde
Cresceu brincando humildade
Se vestia humildemente.

Com humildade e martelo
Trabalhou de carpinteiro
Seu nome era Jesus.

Pregava a madeira
Pregava a palavra
E morreu pregado na cruz.

Com os próprios instrumentos de trabalho...

Desabafo Sincero II

Desabafo Sincero II

Eu não sei quem eu sou
Mas sei quem não sou:

Essa barba bem feita
Esse violão calado
Essa folha vazia
Essa garrafa de vinho cheia

Não sou eu.

E eu não sei quem são vocês
Mas sei quem vocês não são:

Essa vidinha perfeita
Esse abraço apertado
Essa fotogênica alegria
Esse desinteresse pela vida alheia

Eu não caio nessa.

...Mas confesso aqui
Que o cinismo recíproco
É o mais cômodo dos colos
E permite deitar e esquecer
-Confortavelmente-
Quem somos nós.

Êita urbanhalha cinzenta
-A cara de pau nos cega!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desabafo Sincero I

Ansioso, ansioso e ansioso.

Me sinto ansioso.
E ansiedade não tem tempo para métrica.
Ela apenas percorre linhas desesperadamente,
Percorre estradas.
Longas distâncias o mais rápido que pode!

A ansiedade não coloca o guardanapo no colo antes de comer.
E sinceramente, a ansiedade não usa camisinha, não faz preeliminares.
Não pensa se é bom ou é ruim. Ela faz.

E por isso que ela me é tão apaixonante.

Unhasruídastelefonemassemsentidopernasnervosasdedosinquietos
Suorsanguealcoolismosógritospalavrõeslágrimassexocasualcigarro
Enfim, a ansiedade pertence aos apaixonados.

Ela pertence aos viciados.

E a quem anda na chuva apenas para buscar alguma maldita caneta que escreva
E volta gripado.

sábado, 19 de junho de 2010

E por distração

Minha mão trêmula já reescreveu essa linha mil vezes.

Tentando descrever a emoção. Tentando te mostrar o que eu vejo.
Te contar o que eu ouço. Te amargurar com essa minha nostalgia.

Eu perdi a pouco o meu olhar na janela. E a cidade gemia meu nome.
As ruas me chamavam. Com seu ritmo sujo, com suas luzes baratas e com seu calor.

Eu, que há anos me tranquei nesse quarto pequeno - Silencioso, escuro e frio.
Amontoado entre outros quartos pequenos.

Eu, que há tanto evito olhar pela minha janela. E por distração.
Agora não consigo tirar meus olhos dela. Querendo abraçar essa nostalgia.

Querendo me perder pelos bares. Visitar todos os lares. Levitar por todos os andares.
Navegar pelos mares de alcólatras. Drogados. Bandidos. Deprimidos.

Sendo mais um. Embalado pelo ritmo sujo. Guiado pela luz barata.
Rude. Descartável. Foda-se. Agora nem me lembro porque há tanto evito as ruas.

As ruas me chamam. Eu vou. Pra aquecer minha solidão. Além disso...
O diabo que a gente já conheceu é melhor que o diabo que a gente não conhece.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

3ºC

3ºC

No termômetro 3ºC
E uma senhora corcunda
De chinelo de dedo,
De bermuda de praia,
Arrastava sua desgraça
Pelas esquinas do desprezo
Lentamente, até o lixo revirado
Mas comparado ao descaso
E a frieza das pessoas em volta,
Aquele frio não era nada!

Sereno, lágrimas, buzinas...

...3ºC de Porto Alegre na sinaleira

Tumulto!
E eu vejo criança com jeito de adulto,
Jeito de vulto, jeito de culto
Solto no meio de insulto, solto meio de tudo
Pedindo trocados, amor de mãe trocado
Pela química que afaga e abraça apertado...


...Não solta!

Olhe em volta,
O preço é um furto, a vida é um surto, o tempo é curto na cidade!

E na Sibéria da felicidade,
Aquele frio não era nada!

Ainda

Ainda

Escuro...
Silêncio...
Aranhas por todo quarto...

E eu brincando
Com minhas fobias
Enquanto criança ainda

Na noite em que o último bebê nasceu

Na noite em que o último bebê nasceu 



Na noite em que o último bebê nasceu
Cortaram o cordão umbilical da mãe
E logo o plugaram a uma rede
Conectando ele ao mundo.

Tudo aconteceu rápido demais.

Ele olhou à sua volta
E sua alma abriu um berreiro
Pois se sentia obsoleta,
Pois o mundo já tinha acabado.

Exagero?

Por que,
O muitos que não entendem
As coisas que eu digo
Por amor, esperam eu puxar
Faca da gaveta da cozinha
Para se fazerem tão compreensiveis
?

Eu tenho algo engasgado aqui,
Coisa que o tempo acumula
E vai pesando na alma
Como tumor, corrói meu sono
Cada noite é um delírio
E cada segundo uma coincidência.

A vida dói no peito
Bate cada vez mais forte
Como se fosse um desespero
Pois minha mão está ansiosa
Embaixo do teu vestido
Tempo passa e nem me avisa
Já é tarde para deixar de amar

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Mágico

O Mágico

Eu fiquei ali
Observando o mágico
Encantar todos a sua volta
Com sua destreza
Com seu fogo

Atraia olhares com seus movimentos
Que deslumbravam olhares desiludidos
Que confundiam olhares céticos
Que amedrontavam olhares ingênuos

Já eu nem piscava
Eu o observava como uma águia
Querendo entender seus segredos
Mas foi só ver seu singelo sorriso
Que eu entendi que não haviam truques

domingo, 30 de maio de 2010

Entre Gigantes

escrito dia 20/11/2009... um dia antes 5 pessoas morreram e 22 ficaram feridas no Rio Grande do Sul
devido a chuva forte e aos vendavais que castigaram a região.

Entre Gigantes

Nesse mês choveu muito,
O vento assobiava pelas frestas da casa.
Assobiava melodias trágicas, mágicas.
Acordei com trovões que fariam qualquer cético tremer.

("Deus meu! O que fizemos para tanto?")

Mesmo assim é lindo olhar o céu pela manhã
E ver no meio de nuvens tão negras e pesadas,
Raios solares rasgando nossas retinas.
Sim, os grandes sempre querem aparecer.

Roberto Ochoa

terça-feira, 11 de maio de 2010

Canções: Paula

Canções: Paula

Paula,

Dos olhos profundos, da boca calada.
Da vida sozinha, do abraço apertado.

Vim cantar ao teu lado,

Nesse quarto vazio, com teu sorriso imenso.
Meu canto se inspira e quer te fazer girar

Te fazer girar...

Te fazer, te fazer, te fazer girar...
Te fazer, te fazer, te fazer girar...

E se perder no ar.

Dos abraços profundos, dos olhos calados.
Da tua boca sozinha, da tua vida apertada.

De ti não quero nada.

Só ouve meu canto vazio, nesse quarto imenso.
Teu sorriso me inspira e me faz girar.

E me faz girar...

E me faz, e me faz e me faz girar...
E me faz, e me faz e me faz girar...

Vou me perder no ar.

                                                                       Roberto Ochoa

quinta-feira, 18 de março de 2010

Bruna e Helena

para uma amiga muito especial que agora é mãe
17 março, 22h.

Bruna e Helena


Bruna é mãe de Helena
Helena é filha de Bruna
...

Bruna cuida de Helena,
Que embora pequena
Dá muito trabalho!

Helena no colo de Bruna,
Que tirando sua febre
Passa noites em claro

O dia amanhece ligeiro
Com Bruna dormindo de pé.
E quem acorda abrindo berreiro?
É Helena, que embora pequena
Dá muito trabalho!

Mas quando cansada, angustiada
E cercada por seus problemas,
Bruna olha para Helena,
E o sorriso de Helena cuida de Bruna.

Desapegado

Desapegado
Já andei muito por essas ruas.
Às vezes perigoso,
Às vezes vulnerável,
Muitas vezes sozinho.
Outras com tua ausência ao meu lado.

E agora veja essas ruas:
Carentes por perigo,
Carentes por barulho.
Muitas vezes me chamam
Mas eu só atravesso silenciosamente desapegado.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Recado Para a Jardineira

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Chuva Gentil

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Canção di Retorno ao Sertão

Canção di Retorno ao Sertão
Ô cidade grande,
Di tanta gente pequena
Perdida entre prédios gigante,
A vida que não vale a pena.
.
Quando eu saí do sertão,
Disse: Não volto mais não!
Mas prefiro morrê di sede
Do que morrê di ilusão!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dois Beijos

Dois Beijos
O primeiro foi assim:
Quis acontecer, mas não aconteceu.

Já o segundo aconteceu,
Mas não devia.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Jazz às 3

Sentado no chão do quarto
Vou deixando ele tocar
Só pra sentir o gosto
Da ritmada nostalgia
Que ajuda a esquecer
O clima mais quente
As pessoas mais frias
Cada vez mais pessoas
Cada vez menos clima


O sax de Coltrane
Ecoa no meu quarto vazio
Na minha vida vazia

Daqui à 4 horas
Talvez eu durma
Talvez alguém acorde
E vá trabalhar
Não por salário
Mas pela sensação
Da vida fazer
Um simples sentido
Pois, sem ele
Por que acordar?



Talvez por isso eu resisto fechar

Os olhos antes das 3

Tenho medo de acordar de manhã

Precisar achar sentido

E não achar...

Viver...
A vida é uma jazzband improvisando
Onde ninguém sabe bem
Quando mudar de ritmo,
Quando fazer um solo
E principalmente, quando parar,
E nem precisa. É uma questão de sentir...
Viver/jazz é uma questão de sentir e não de fazer sentido.
Por exemplo,
Faria sentido o vazio
Do meu peito
Preencher tanta linha
Do meu caderno?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Lixo

Lixo

Fiz esse poema em um papelão encardido
Inspirado em pensamentos poluídos
Escritos com a sujeira acumulada
Embaixo da unha, em cima das calsadas
Deste imundo mar de decomposição
Onde até o dinheiro suja minhas mãos
Onde a fruta industrial tem sabor e gosto
Mas é o papel que enxuga o suor dos nossos rostos.

Cortamos as árvores, virtualizamos o amor.
A natureza se vingou dando flores.
Mas quem se lixa pra flor?
Somos rodeados de aromatizadores
Que impedem que a gente cheire a merda que temos feito!
Nosso jardim plastificado com fragrâncias de todos os efeitos
Mas esse poema não cheira a lavanda, ele tem gosto de graxa
O lixo é de graça, é o espelho das massas
...
Esse poema também, é de graça e é espelho.
É fumaça de indústria e sinais vermelhos.
É lixo, mas que se lixa pro lixo hoje em dia?
Com tanto chão imundo e lixeiras vazias
Com tanta vida suja, quando o lixeiro vem
Para confiscar tudo aquilo que tu diz ser teus bens?
Ontem é lixo. O consumível, o consumado, tudo é deletável!
E para contribuir amasso no chão meus versos recicláveis.


O Próximo Passo

O Próximo Passo
Então do céu,
Desceu uma luz,
Em pleno centrão,
No meio de todo mundo
E ninguém viu.

Essa luz foi tomando forma.
Não posso detalhar aqui
Porque não a vi muito bem.
Mas pude ouvir o anjo,
Que ali gritava quase aos prantos:


"Ó sociedade urbana!

Desliguem a TV! Apaguem as luzes! Tirem seus óculos!
-Não há mais nada para ver...

Desliguem o ar condicionado! Fechem as torneiras! Esvaziem as piscinas!
-A chuva nos refrescará quando a gente merecer!

Rompam os anéis e os colares! Rasguem seu dinheiro! Tirem suas roupas!
-Não há do que se orgulhar mais!

Vamos quebrar a lente dos microscópios! Parem de descobrir! Parem de inventar!
-O próximo passo do homem é para trás!"

E essa teria sido
A última vez
Que Deus tentou
Falar com o homem.
E ninguem ouviu...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Baile de Interior

Baile de Interior
Há 5 anos e muitos kilometros atrás,
A menina me chamou pra dançar.
Sorriu,
Fez beiço,
Enfim: sedução sincera.
Mas recusei por infeliz timidez
...

E hoje, nessa noite silenciosamente escura,

Ouço apenas meu coração se debater no meu peito,

Louco para sair.

Ele bate inconformadamente forte, perguntando:

Será que ela ainda está lá sambando?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Depoimento

Depoimento
Sorrisos, bons valores e velhos costumes,
Deixem eles para a publicidade prostituída.
Minha vida não é constituída por frases de efeito.
Não, sua margarina não vai melhorar meu dia.

Não me mande seu profile ou seu perfil.
Quero te ver de frente, ver o lado que tu não vende
E então te mostro meu lado que ninguem pode apagar
Quem sou eu: alguem para lhe fazer compania.

Não aceita

Romance Urbanóide

Romance Urbanóide
O grafiti desbotado,
A cidade cinza,
Tanta gente ranzinza
Deixando o dia nublado.

Certamente terça:
O dia mais cinzento.
E em pleno sinal verde
O trânsito está parado.

No ônibus amontoado de tédio,
Ela e seus lábios vacilantes
Beijaram meu dia.

Talvez exista sol acima dos prédios,
Mas o céu daquela boca cativante,

era o único paraíso que eu conhecia.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Velhas Tatuagens

Velhas Tatuagens
Ser jovem é tatuar nos olhos a visão
De que o mundo é um lugar bom.
Mas viver dói. Choramos, e a tatuagem
Vai desbotando: isto é envelhecer.
...
Vejo as gerações envelhecendo cada vez mais cedo
E a cada lágrima querendo ser eternamente jovens.
...
As tatuagens saem dos olhos e vão para
O corpo, para os livros, para os muros,
Mas não adianta, por mais lâmpadas que tu
Tenha em casa, o sol ainda se põe no entardecer.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desconfio

Desconfio

Fotos. Filmes. Roupas. Poses.
Imagem pra comprar e vender.
Se comprar e se vender.

Estamos deixando de viver,
Para viver reality shows
E fora do show o que temos a oferecer?

Desconfio muito que todos apenas enrolam.
Se auto-promovem para nada!


E se um dia nas ruas da vida
Uma linda mulher cruzar por mim
e abrir um sorriso, o que faço?

Temo ver um anúncio em seus dentes
Um slogan em seu "oi"
E um patrocínio em seu abraço.

Apenas abaixo os olhos e digo:

Vim de longe,
Tô com pressa,
Sai da frente, por favor.

Tô perdido
Nesse mundo,
Com mais concreto do que amor.

Boa Viagem!

originalmente escrito dia 24/12/09 às 9h da manhã aproximadamente.

Boa Viagem!

Coloque qualquer coisa na bagagem
Deixe esse ônibus te levar.
Solte os cintos, feche os olhos
E boa viagem!

Deixe o balanço da estrada te seduzir,
Deixe que caia o peso do corpo.
Esqueça a paisagem e os documentos,
A pose pra foto e o direito de vir.

Vamos ir primeiro,
Para ver se vale a pena voltar.
Sem ultrapassagens e sem atalhos,
O vício da pressa é o medo de nunca chegar.

E sem paradas desta vez!
Ainda temos gasolina.
Ainda temos adrenalina
E ainda não caímos em lucidez.

Soneto de apresentação. O Menino Viajante.

O Menino Viajante
Sou o menino viajante
Levo pouco na bagagem
Caderno, câmera, violão
E um sorriso no semblante

Sou o menino viajante
À pé, de ônibus, avião
Sou amores de inverno
Sou aventura de verão

E há muito não paro nessa vida
Vou sem poder olhar pra trás
Pois só tenho passagens de ida.
...
Fica a saudade, mas não chore não.
Levo pouco na bagagem
Mas muito no coração.