sábado, 27 de novembro de 2010

CARTA DE MORTE.

Homenagem ao vô Manuel Emerim. Homem bom.

Sou quem sempre fui,
Então não há muito a ser dito.
Só resta colocar o meu melhor terno
E o meu sapato favorito.
O que tinha para sorrir, não vi.
O que tinha para chorar, cansei.
Não adianta acender agora as velas
Que sobre os bolos eu apaguei.
Pois os anos passaram em silêncio.
Foram indo embora com cuidado,
E quando eu percebi o tempo poente,
Já não havia forças para fazer legado.
Mas como fazer legado,
Esperando a chuva regar o chão,
Gritando uma lingua estranha
Com uma enxada na mão?
Já colhi colheita podre
De plantanção tão dedicada
E já fechei a porta na cara
De gente que não me devia nada.
Deus que me perdoe,
Mas se errei não me arrependo.
Quanta gente erra rindo a vida inteira
E se arrepende só quando está morrendo?
Que valor existe nisso? Meu Deus,
Se no céu existe gente assim,
Me deixe ser a chuva que rega o chão,
Que rega as plantas e as flores do jardim.
Porque existem muitos jeitos
De se cometer o mesmo pecado.
Ai, mundo velho! Eu me indo embora,
E tu ainda girando em volta desse sol parado...

1 viajante(s):

almadascousas disse...

o confortante é que todos estamos indo embora.. e um dia talvez ele também pare de girar.. adorei o poema ;)