domingo, 24 de outubro de 2010

AS LAMENTAÇÕES DE UMA ARTE QUE MORREU

PRIMEIRO LAMENTO.

Essa arte veio da natureza,
Da força e da beleza
Era das artes a mais humana,
Bela fera hierática e profana.
Cantava ao povo, era viva.
Lágrima, suor e saliva.
Hoje, seu cadáver encarde,
Sob luzes e postes na rua,
Nessa cidade sem lua,
Onde o dia amanhece tarde.

 SEGUNDO LAMENTO.
Se a arte morreu de causas naturais
É porque o mundo estava virtual demais.
A artificialidade tem graça?
Veja os fogos de artifício.
Luz, barulho, cor e fumaça
E, no mesmo vazio do vício,
Não esquenta de verdade,
Mas queima até consumir tudo.
Quantidade vira qualidade,
E pobreza já é conteúdo,

TERCEIRO E ÚLTIMO LAMENTO.

Se a mataram não me admira!
Quantas vezes ela não foi mentira?
Ela já enfeitou muito bolero,
Mas cada enfeite foi sincero.
Era a arte da oferta irrecusável.
Era lobo em pele de serpente,
Entrava pela porta da frente
Com sua beleza incontestável.
Mas ao te ver em decomposição,
Tua canção já não escuto.
Linhas em branco, de luto,
De preto, juntando do chão
As lamentações de uma arte que morreu.
Morreu de medo suponho.
Com medo do tempo que esqueceu
A já saudosa arte do sonho.

3 viajante(s):

Anônimo disse...

Li uma vez
Gostei, é bonito. Mais bonito..

Anônimo disse...

"Tua canção já não escuto.
Linhas em branco, de luto
De preto, juntando do chão
As lamentações de uma arte que morreu."
Lamentações, que nada!
'Enterrar os sonhos na própria carne
e VIVER da própria morte'..

A arte em decomposição
Dá raiva..
Também se faz arte.

Anônimo disse...

A artificialidade da vida..
"Não esquenta de verdade,
Mas queima até consumir tudo"
!!
A arte em decomposição
Dá raiva...
Da raiva
Também se faz arte.