sábado, 19 de junho de 2010

E por distração

Minha mão trêmula já reescreveu essa linha mil vezes.

Tentando descrever a emoção. Tentando te mostrar o que eu vejo.
Te contar o que eu ouço. Te amargurar com essa minha nostalgia.

Eu perdi a pouco o meu olhar na janela. E a cidade gemia meu nome.
As ruas me chamavam. Com seu ritmo sujo, com suas luzes baratas e com seu calor.

Eu, que há anos me tranquei nesse quarto pequeno - Silencioso, escuro e frio.
Amontoado entre outros quartos pequenos.

Eu, que há tanto evito olhar pela minha janela. E por distração.
Agora não consigo tirar meus olhos dela. Querendo abraçar essa nostalgia.

Querendo me perder pelos bares. Visitar todos os lares. Levitar por todos os andares.
Navegar pelos mares de alcólatras. Drogados. Bandidos. Deprimidos.

Sendo mais um. Embalado pelo ritmo sujo. Guiado pela luz barata.
Rude. Descartável. Foda-se. Agora nem me lembro porque há tanto evito as ruas.

As ruas me chamam. Eu vou. Pra aquecer minha solidão. Além disso...
O diabo que a gente já conheceu é melhor que o diabo que a gente não conhece.