sábado, 17 de julho de 2010

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.




Julho de 1955, Porto Alegre.
Mesmo sendo noite fria, a boemia se espalhava pelas ruas.
Dentro de um bar emanava um tango chorado pelo piano,
E havia muitas mesas ocupadas na calsada.

Vendo tantas rosas pelas mesas, tantos casais
E ao sentir aquele odor de vinho que dançava pelos acordes dos bons tempos,
A moça que passeava sozinha pelo frio da noite,
Tomou-se de emoção e procurou uma mesa para sentar.

O vendedor de rosas que gingava de mesa em mesa sorrindo, fazendo graça,
Ao ver tal semblante, lhe oferecera a flor. Foi o afrodisíaco justo:
-Não precisa pagar por esta, paixão não se vende.
Ao ouvir isso ela suspirou fundo, fechando os olhos
Para não ver as mesas que giravam a sua volta

E, discretamente, fez ao garçom a seguinte pergunta após ser servida:
- Quem melhor entende de amor? - Perguntou ela com o lábio roxo
- O pianista de tango, ou o vendedor de rosas?
O garçom hesitou. Apontou para um senhor muito embecado,
Então dizendo calmamente para a moça:

-Vê aquele velho? A vida lhe tirou duas noivas, ambas muito cedo.
O tempo se arrasta enquanto o viúvo ainda espera sutilmente pelo seu dia,
E não há nada de triste nisso, mas sim de belo. Entenda:
A rosa logo murcha, o tango hora cansa. A cova é para sempre.