sábado, 17 de julho de 2010

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.

Nostalgiar: Rosa, Tango e Cova.




Julho de 1955, Porto Alegre.
Mesmo sendo noite fria, a boemia se espalhava pelas ruas.
Dentro de um bar emanava um tango chorado pelo piano,
E havia muitas mesas ocupadas na calsada.

Vendo tantas rosas pelas mesas, tantos casais
E ao sentir aquele odor de vinho que dançava pelos acordes dos bons tempos,
A moça que passeava sozinha pelo frio da noite,
Tomou-se de emoção e procurou uma mesa para sentar.

O vendedor de rosas que gingava de mesa em mesa sorrindo, fazendo graça,
Ao ver tal semblante, lhe oferecera a flor. Foi o afrodisíaco justo:
-Não precisa pagar por esta, paixão não se vende.
Ao ouvir isso ela suspirou fundo, fechando os olhos
Para não ver as mesas que giravam a sua volta

E, discretamente, fez ao garçom a seguinte pergunta após ser servida:
- Quem melhor entende de amor? - Perguntou ela com o lábio roxo
- O pianista de tango, ou o vendedor de rosas?
O garçom hesitou. Apontou para um senhor muito embecado,
Então dizendo calmamente para a moça:

-Vê aquele velho? A vida lhe tirou duas noivas, ambas muito cedo.
O tempo se arrasta enquanto o viúvo ainda espera sutilmente pelo seu dia,
E não há nada de triste nisso, mas sim de belo. Entenda:
A rosa logo murcha, o tango hora cansa. A cova é para sempre.

sábado, 3 de julho de 2010

Amor e Paciência

Escrito em 2007. Eu tinha 16. Um de meus primeiros poemas fora da estética do Rap. Isso se evidência na insegurança das rimas, essenciais no Rap, mas dispensáveis quando se quer dizer alguma coisa urgente a ser dita. Então nesse poema - ao meu ver meio bobo - há muitas rimas pobres, que refletem essa insegurança. Postei aqui, mas não queria. Porém há uma explicação... Certas coisas na vida, por mais que a gente esteja careca de saber e alertar os outros, acontecem com a gente, e estamos tão envolvidos que mal percebemos. É como um barco a vela no meio do mar. Tamanha é a imensidão dos horizontes que o azul do céu se confunde com o azul do mar, e quando tu te dá por conta, o vento te levo pra outro rumo,quando tu vê tu tá perdido. E nesse poema eu falo sobre quando a persistência vira teimosia... E eu, marinheiro de primeira viagem nessa vida, deveria ter ouvido aquilo que eu tanto alertava.

amor e paciência
um depende do outro
tão grande a influência
que um não sobrevive sem o outro

o amor sem paciência
uma forte rajada de vento
iludida, furiosa e intensa
dura tão breve momento

a paciência sem amor
é ventania teimosa
que muda de rota sem pudor
perdição desastrosa

o amor paciente
quando existe de verdade
é a brisa leve que leva a gente
para os mares da felicidade

a persistência vira teimosia
se a paciência é vazia
se o amor não existe
inutilmente alguém persiste

mas não importa, o vento continua soprando...

Reflexos

Reflexos

uma parte de uma letra de rap escrita por mim em meados de 2007.

Deixa eu rir, deixa eu brincar com o perigo em paz.
Além do mais a vida já brincou comigo demais.
E não importa se eu vivo essa vida sem nexo.
Não sou do tipo que se julga pelo próprio reflexo.
Sedento e perplexo, entre vitória e derrota.
A paciência quase esgota, mas não mudo de rota.
Sentimento se transforma, pensamentos criam forma.
Sem seguir nenhuma norma de traço, traço que não se conforma
Com a a vida morna. Minha vida se torna um espelho.
Que reflete próprias verdades e escassez de concelho.
Não tenho tudo que mereço, não mereço o que tenho.
Independente do empenho, não ligo pro desempenho.

Desabafo Sincero III

Desabafo Sincero III

Eu só quero a graça de viver de graça. Dormir no banco da praça,
Onde o sol me abraça. Onde tudo passa.
Bem longe das traças. Bem longe das farsas.
Da discriminação de raça. Eu me juntarei as massas.
As marchas e as cachaças. Longe das taxas e das caças.
Nosso caminho a gente traça. Nossa sorte a gente laça.
Os falsos, verdade amassa. Os falsos o tempo enferruja.
Enquanto eu varo a noite passando a limpo minha poesia mais suja.

''Stay Young''

"Stay young" o caralho, "stay young" é insegurança.
Insegurança da alma e medo da carne.
Cirurgias para as rugas? Tintura para os cabelos?
O oxigênio ainda consome vocês!

De que seria o vinho sem o amargo e nobre
Gosto do tempo? Sabor dos anos?
A sabedoria dos carnavais compensa
A pouca força no sambar: Todos tiveram sua vez!

Quem brilhou, brilhou...

O Carpinteiro

O Carpinteiro

Nasceu em lar humilde
Cresceu brincando humildade
Se vestia humildemente.

Com humildade e martelo
Trabalhou de carpinteiro
Seu nome era Jesus.

Pregava a madeira
Pregava a palavra
E morreu pregado na cruz.

Com os próprios instrumentos de trabalho...

Desabafo Sincero II

Desabafo Sincero II

Eu não sei quem eu sou
Mas sei quem não sou:

Essa barba bem feita
Esse violão calado
Essa folha vazia
Essa garrafa de vinho cheia

Não sou eu.

E eu não sei quem são vocês
Mas sei quem vocês não são:

Essa vidinha perfeita
Esse abraço apertado
Essa fotogênica alegria
Esse desinteresse pela vida alheia

Eu não caio nessa.

...Mas confesso aqui
Que o cinismo recíproco
É o mais cômodo dos colos
E permite deitar e esquecer
-Confortavelmente-
Quem somos nós.

Êita urbanhalha cinzenta
-A cara de pau nos cega!