sexta-feira, 11 de março de 2011

Entenda-Se Quiser, Cansei de Cantar e Cansei de Escrever.


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Sinceramente cansei de escrever. Cansei de cantar e cansei de escrever.

Não é culpa da tendinite, e muito menos, acredite, de falta de inspiração.
Eu canso é de remar num mar sem horizontes, apenas de caneta e violão.
Escrevi incansávelmente até descobrir que estava tudo escrito por aí...
Cantei meus melhores blues pra quem não mereceu, ou nem quis ouvir.

Eu só lamento, mas não acho que foi tempo perdido,
Quantos tiveram que morrer pra só depois ser ouvido?
E hoje em dia já não dedico mais meus versos a quem,
Quero bem, mas sim a quem nunca veio, pois não vem.

Mas mesmo assim basta! A voz está gasta, e a caneta se arrasta em mais um verso infeliz.
E eu? Vou ficar a vida inteira batendo cordinha e recitando pela rua cada poema que fiz?
Pra ser vitima desse público cínico que só aplaude quando a música termina porra?! "Oba, acabou!"
Se gostou aplaude quando eu ainda estiver cantando minha bossa, escrevendo na fossa, pois estou
Convencido que minha música não é frágil e meu verso não é de papel. Pode tossir no meu show
Pode cuspir nesse poema, cospe que eu não canto gospel. Aplauso nunca me ensinou nada.
Prefiro a vaia porque eu sei que alguém ouviu de verdade, por isso eu digo em voz entoada:

"Os incomodados que fiquem!!! Que fiquem e se multipliquem!!!" Sem eles eu canso.

Minha arte é como aquela árvore perto de sua casa que insiste muito em crescer,
Quebrando o asfalto, arrebentando fios de luz no alto, jogando sementes em você.
Esperando ser podada para crescer melhor, mais forte.

Você que me aplaude achando que me rega, me afoga.
Tudo o que eu preciso o céu já me joga,
O resto é minha morte.

A quem não gostou, muito obrigado.




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quarta-feira, 9 de março de 2011

Entenda-Se Quiser, O Silêncio de Paula

Luzes, fumaça e gente!

Andávamos pela rua, enquanto a rua fervia.
Fervia tanto que as pessoas cozinhavam suas mentiras
Em pleno asfalto, enquanto ela via tudo em silêncio.

Então a rua ficou mais barulhenta.
Tão barulhenta que as pessoas gritavam suas mentiras
Porque achavam que ninguem ia ouvir. E ela quieta.

Quando vi a rua parecia um pedaço do inferno.
E as pessoas mentiam porque não tinham nada a perder.
Mas o que mais me encomodava era ela.

Que silêncio distoante!


..., ... e ... Definitivamente era melhor sairmos de lá.

Um tempo depois, andávamos rua distante
Longe do fervo de gente, até estava frio...
Olhei pra ela, mas ela já olhava pra mim
E quase não acreditei quando ouvi ela dizer,
Com as poucas palavras que restavam:

- Eu prefiro não dizer nada a ter que te mentir.

...Então veio o sentimento de felicidade ao ver ela ali,
                                                                   Forte. Muda.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Entenda-Se Quiser, O Armário.

A quem quiser saber, vou contar:
Um desses grandes sábios deixou eu ver seu velho armário,
Onde ele guardava tudo que caia do céu e virava lixo no chão.
Ele conta que todo o dia ele tinha uma nova dor para colocar no armário, e o mesmo
Já estava com suas prateleiras envergando, gavetas não fechando e perguntei
O que eu não entendia. Avisei o que ele já sabia. "O armário não aguenta mais.
Acho melhor parar de colocar as coisas aí dentro."
Mas não ouvi uma resposta.
...
Enfim os meses passaram me levando a ver o sábio e seu velho armário outra vez.
Fiquei confortável em uma cadeira que ele me ofereceu para sentar e ouvi tudo.
Ele falava sobre as coisas da vida que eu queria entender, mas lá estavam
As prateleiras em "V" e as gavetas escancaradas que ele todo dia presentiava...
Na minha cabeça só me perguntava como um homem tão inteligente poderia
Ser tão desorganizado e confuso, mas ele continuava falando sobre muito, e
Só me restou ouvir em silêncio. Até que ele se levantou e tirou do bolso
Um punhado de pregos tortos e amassasados e algumas pedras vazias.
Fiquei vendo aquela cena patética, ele procurando espaço onde não havia
Para guardar coisas tão inúteis!!! Sem nem pensar, levantei da cadeira
Cheio de motivos bruscos que ela caiu longe no chão. Fui até o sábio
Segurei sua mão, olhei para ele nos olhos e disse:

"Se colocar mais alguma coisa nesse armário, ele vai quebrar, não percebe?"

Só que o mestre olhava para longe, onde havia uma cadeira caída no chão
Quebrada, faltando uma perna. Ele lentamente foi até lá e antes que eu
Pudesse me desculpar, disse, enquanto juntava o que já não servia mais:

"Tudo bem. Deixa que eu pego."

E então fiquei vendo aquele homem que junta o que os outros deixam no chão,
Colocar uma cadeira de três pernas em seu armário prestes a explodir de tanto.
Ele procurava um lugar, um jeito de encaixar, e eu, onde me esconder...
Ficamos horas congelados nessa cena, nunca vou esquecer quando percebi que
Aquele armário era o fardo de uma vida, era o peso do pecado alheio, era triste,

Mas se fosse para quebrar já teria quebrado.



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