domingo, 17 de julho de 2011

Diálogo.

Para uma experiência mais completa, recomendo aos leitores, que se possível, ouçam "Où Es Tu, Mon Amour?" ( link: http://www.youtube.com/watch?v=4QnQgbwob6w ). Leiam lentamente, deixem a música conduzir o ritmo de leitura.
Espero que apreciem.                                          Atenciosamente, R. Ochoa.



Diálogo.

- Por que choras?
- Por nada não...
- Se em cada sorriso existe um porquê
   Cada lágrima é um motivo que escorre no teu rosto...
     E fico aqui sem entender, por que não dançastes hoje?
- Meu corpo dói, cansei de dançar.
- Mas então vamos sair, tomar um café...
- Cansei de café... E cansei desta cidade e desta gente... Desse porto inútil!
- Então vais embora?
- Não meu amor, nunca vou te abandonar. Por que não vens comigo?
- Mas eu sou essa cidade, essa gente. E, ultimamente, tenho sido o café também!
    Cansaste também de mim?
- Por que pensas assim? Claro que não cansei de ti, meu amor...
- Não vejo o porque não... Sou o mesmo que conheceste naquela estrada chuvosa
    E digo mais, se não te canso ainda, creio que logo vou te cansar!
- Por que dizes isso?
- Porque acredito na constância como um caminho de eternidade, entende?
    Quem é tu quando foges do tempo? Não vê que quem sempre viaja não leva bagagem?
        Te amo e por isso acalmei a minha alma, como uma criança desmamada se aquieta nos braços
            De sua mãe. Não ando a procura de grandes coisas, nem coisas maravilhosas demais para mim.
               Só quero um salmo e um lugar calmo. Cultivo, construo e espero todos os dias...
- Mas se nunca colheres, nunca morares e nunca alcansares? Verás que ficaste parado neste porto 
     Cinza...
- Me abraça e te acalma... Eu também tenho medo.
- Eu cansei de esperar um novo barco ancorar nesse velho porto. Aqui nada acontece e quando
    Acontece o descaso abafa. Parece que se ninguém ouve a árvore cair ela não faz barulho.
       E olha para inércia dessa gente! Fazendo as mesmas coisas de sempre, indo aos mesmos lugares
         De sempre! Só de olhar para eles já fico entediada. Parece que a única coisa que se tem para
           Fazer aqui é falar da vida dos outros e transformar tudo em rotina! Eu não quero mais isso...
             Entende amor?   
- ...
- Amor?

E então, o ainda jovem casal continua caminhando pela cidade lentamente. Ela contrariada pelo silêncio dele, um péssimo costume, por que não respondia? Ele apreensivo, percebeu que estavam perto do porto da cidade. E se houvesse um novo barco ancorado naquele velho porto? O jovem sabia que, caso houvesse um novo barco no porto, o seu amor não exitaria em embarcar.
Pensou em mudar a rota. Pensou em parar ali mesmo, no meio da rua, sem dizer nada. Contudo não foi capaz, seguiu andando rumo ao porto. "Eu também tenho medo" ecoava na cabeça dele. Mas o que é o amor, senão se entregar ao medo? Ele seguiu caminhando e, apesar de mudo, seu silêncio e resignação foram a maior resposta ao amor.

Tudo é só impressão.

Tudo é só impressão.


Rua. Luzes e sombras sem nitidez.
Na minha visão, tudo é só impressão.
Cambaleando e fraco, só me resta continuar a andar,
Definitivamente. Ou ando, ou espero pela morte.

Preciso me acalmar. Respiro fundo. ...
Ainda sinto teu perfume no meu corpo, no meu casaco.
Ainda ecoam teus gemidos no meu ouvido,
Que vão ganhando volume para abafar o caos da rua.
Mas já sem forças, caio no chão.

Caio de joelhos. De quatro no mundo.
Já que não há mais forças nas pernas, procuro nas mãos,
Mas entre meus dedos ainda resta 
O peso dos teus cachos. Do teu lindo cabelo.

Alguém precisa me ajudar! Tento gritar por socorro,
Mas não há grito na minha boca.
Mudo e fraco percebo:
Na minha boca só resta o gosto doce
Do chá, com o qual tentaste me envenenar.

Tudo é só impressão.
Ou ando, ou espero pela morte.        

domingo, 1 de maio de 2011

Júlia III

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Júlia II

O dia amanhece azul e da minha janela eu posso ver pequenas árvores crescendo lentamente, enquanto os prédios estão parados, mesmo que mais evidentes. Então daqui posso ver todos os tons de verde e de castanho que me confortam. Me acomodo na cadeira de couro com meu cobertor - que é curto: ou cobre o peito, ou cobre os pés, mas nada me incomoda, pois todo mundo ama o meu amor. Todo mundo ama o meu amor, minha menina.

Ela cruza a rua e todo mundo perde o céu quando vêem seus pés, que lentamente estavam crescendo, enquanto o céu, antes mais evidente, estava parado. Todo mundo ama o meu amor.

Júlia I

Já não me bastam apelos de dor, canções de amor quando tu resolve emanar teu calor
Queimando minha boca enquanto eu toco teu corpo com meu sorriso.
Juro que tento fazer silêncio, mas as luzes do quarto iluminam menos do que deveriam.
E por que tu me olha como se nunca tivesse me visto? Muito prazer, dança comigo?
Não sei se te afago ou te castigo! Independente disso, já vi chover enquanto era sol
Já vi teu amor me odiar cada vez mais forte. Deixa eu lembrar teu gosto uma vez mais,
Enquanto meu rosto se contorce, minha alma amortece e o dia adormece em paz.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Giz em Lixa: Pássaros Migrando.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ao Amigo Pedro,

Duas considerações distintas e independentes:

1. Meu amigo de guerra. Irmão de armas por outrora.
Não viste mais sentido nessas nossas linhas de frente
E então, largaste teu fuzil no chão e foste embora.

Mas por acaso não lhe veio, Pedro, a tua mente,
Que sobrevoa e vê do alto, toda essa guerra agora,
Que fuzil no chão é dado ao inimigo de presente?

2.- Como é difícil matar a saudade para ouvir um "adeus".
Contudo, disseste que voaste, e isso me anima, pois sei
Que voar cansa. Ninguém voa o tempo todo meu amigo.
Até mesmo o mais forte falcão necessita deixar pegadas.

Te vejo breve em terra firme, e não precisa explicar.

domingo, 17 de abril de 2011

Do Porque Atrasar.

Por que me atrasei?

É que existe um caminho mais longo para a tua casa,
Por onde eu passo por velhos sorrisos (cafés) que o tempo não fechou
E por velhos sonhos (caminhos) que o asfalto não cobriu,
E não vou mentir: dá vontade de ser. De continuar sendo.

Mas o triste é quando a nossa felicidade não contagia.
Se eu chego atrasado é porque saio de casa atrás de algo para te oferecer, (pois não tenho nada)
Como quem sai a caça. Então me abraça, vê valor na minha demora.
Tempo também passa lá fora: Eu tenho um sorriso para você.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sobre Tuas Boas Intenções

Serviste arroz, carne e feijão
nas melhores das intenções,
mas comida fria e sem sal
não atende o gosto,
nem me mata fome.

O mesmo é quando um pai,
não estando de mãos limpas,
acaricia o filho pela manhã...
ou lhe suja o rosto;
ou lhe suja o nome.

Mas não posso dizer é nada.
Vim aqui com a boa intenção
De cantar alegrias e alvorada,
Saiu da amarga madrugada apenas outra lamentação.

                                                             (Não te atende o gosto
                                                              E só me suja o nome.)